Ateliê - um fazer entre pensares

Hoje escrevo a terceira e última (por enquanto!) reflexão sobre o ateliê como uma forma de aprendizagem. Escolhi falar da importância de se configurar o ritmo que estabelecemos numa experiência.

A raiz etimológica da palavra “educação” está no latim, e significa “trazer para fora”, ou em outras palavras, contribuir para que alguém saia da condição de potência e se realize em ato. Uma das maneiras de poder fazer isso está nas perguntas que escolhemos fazer para que as pessoas possam buscar nas suas experiências anteriores, nas suas memórias afetivas e culturais as respostas mais próximas e diretas, num primeiro momento, e um outro degrau de compreensão de si e do mundo, conforme a conversa vai acontecendo.

Todo ateliê começa com um diálogo, um conjunto de perguntas, reflexões e exemplos que vão acordando as pessoas para outras possibilidades de pensamentos fora daqueles de rotina. Esses momentos de conversas são fundamentais para aquecer corpo e espírito, como num processo de afinação de instrumentos antes do início da apresentação de uma orquestra. Até que todos cheguem próximos da mesma frequência e do tom harmonioso, é preciso que se conduza com os recursos disponíveis da boa palavra, das boas perguntas e da integração entre todos, esse caminho

Quando chegamos na etapa da elaboração propriamente dita, da criação, é fundamental que os materiais sejam condizentes com a expansão de horizonte provocada na conversa anterior. É muito complicado quando os pensamentos fluem, a imaginação voa, mas na hora de concretizar as ideias, dar-se por falta de materiais suficientes para as diferentes experimentações.

Imaginar é uma forma de sonhar acordado, e é preciso que não haja amarrações para a imaginação. Até porque é ela quem enriquece profundamente a experiência individual do fazer, e depois também a partilha de descobertas e significações quando o ateliê chega ao fim. É muito melhor quando se oferece possibilidades variadas para que as pessoas possam conquistar a intimidade com o próprio processo criativo aos poucos.

Colagem de autoria desconhecida. Encontrada nas pesquisas do pinterest.

Trazer para fora algo que estava escondido ou guardado; ou ainda trazer para fora, para experimentar um pouco do mundo, um tempo-espaço fora do usual e corriqueiro, embotado pelas tarefas do dia-a-dia. É um dos sentidos que está na raíz etimológica da palavra “educação”.

De experiência em experiência, vamos saindo melhores do que entramos. E vamos regenerando sentidos e significados que nos deixam mais próximos de nós mesmos e dos outros.

Mais uma colagem de Hollie Chastain - a primeira que aparece nesse post também é dela. Clicando na imagem, você pode acessar o site dela e conhecer mais sobre suas obras.

Em tempo! Acho que deu pra notar que a colagem tem sido uma técnica muito querida para mim nos últimos tempos, né? É uma descoberta de um universo de artistas incríveis, que fazem de tudo com pedaços de papel e recortes de imagens. Além da artista Hollie Chastain, autora de duas das colagens que ilustram esse texto, aqui tem também alguns perfis que fazem parte desse repertório que venho descobrindo:

Hannah23

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